segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias  porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não  agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de  sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10  episódios do 'Law and Order', uma caixa de  trufas bem macias e o Richard Gere, embrulhado pra presente. OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago...
Autora - Danuza Leão

10 comentários:

  1. Oi Ana,
    Este texto é ótimo! Vou compartilhar no FB.
    Bjs e uma ótima 5ª-feira para você.

    GOSTO DISTO!

    ResponderExcluir
  2. Adorei o texto!
    Vou compartilhar na minha página do face!
    beijo grande!

    ResponderExcluir
  3. Gostei do texto e tenho me sentido assim , mas temos que nos controlar , é melhor.
    bjs
    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Ana, querida, AMEI!!!!!
    Eu quero tudo e "não necessariamente por essa ordem!"
    Quero ser politicamente correta, mas, como Santo Agostinho, "não agora!"

    Muito, muito obrigada pelo imenso sorriso e riso e gargalhada que trouxeste ao meu fim de dia.
    Linda! Sua linda!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  5. Oi Ana
    Sensacional o texto da Danuza, ela é muito boa com as palavras.
    Beijo

    ResponderExcluir
  6. Oi, Ana!
    Vim agradecer sua visita tão carinhosa e lhe desejar um ótimo final de semana também!
    Bjs.
    http://dedeartes-denise.blogspot.com

    ResponderExcluir
  7. Amei o texto, eu adoro sorvete de creme, o de chocolate eu consigo resistir, mas independente do sabor, verão pede um sorvete, te agradeço pelo carinho e desejo uma temporada de verão aliviada pela água, pelo sorvete, pelo ar pela praia, que seja agradável para você pois veio com tudo o nosso verão não é mesmo? bjos, amiga!

    ResponderExcluir
  8. Olá minha querida, passei para deixar um abraço e desejar uma abençoada tarde de domingo.Bjuss

    ResponderExcluir
  9. Ana Maria, adorei o texto. Convenhamos que é cansativo ser sempre politicamente correta.
    Uma boa semana com tudo de bom. Aí é Verão, possivelmente até está de férias.
    Beijinhos.

    ResponderExcluir

Obrigada pela visita! Volte sempre!
Deixe aqui seu comentário ou entre em contato comigo pelo e-mail bragamaral@uol.com.br.
Agradeço, Ana Maria