Minha amiga, Angela Laprovitera, me mandou este texto que gostei muito e por isso repasso para quem não viu, ainda.
Assim escreve Regina de Castro Pompeu, premiada na primeira edição dos Prêmios Longevidade.
Ao completar sessenta anos, lembrei do filme “De repente 30”, em que a adolescente, em seu aniversário, ansiosa por chegar logo à idade adulta, formula um desejo e se vê repentinamente com trinta anos, sem saber o que aconteceu nesse intervalo.
Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos?
Ainda sou aquela menina assustada que entrou pela primeira vez na escola, aquela filha desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou aquela professorinha ingênua que enfrentou sua primeira turma, aquela virgem sonhadora que entrou na igreja, vestida de branco, para um casamento que durou tão pouco! Ainda sou aquela mãe aflita com a primeira febre do filho que hoje tem mais de trinta anos.
Acho que é por isso que engordei, para caber tanta gente, é preciso espaço!
Passei batido pela tal crise dos trinta, pois estava ocupada demais lutando pela sobrevivência.
Os quarenta foram festejados com um baile, enquanto eu ansiava pela aposentadoria na carreira do magistério, que aconteceu quatro anos depois.
Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova cidade, num novo posto de trabalho.
Agora, aos sessenta, me pergunto onde está a velhinha que eu esperava ser nesta idade e onde se escondeu a jovem que me olhava do espelho todas as manhãs.
Tive o privilégio de viver uma época de profundas e rápidas transformações em todas as áreas: de Elvis Presley e Sinatra a Michael Jackson, de Beatles e Rolling Stones a Madonna, de Chico e Caetano a Cazuza e Ana Carolina; dos anos de chumbo da ditadura militar às passeatas pelas diretas e impeachment do presidente a um novo país misto de decepções e esperanças; da invenção da pílula e liberação sexual ao bebê de proveta e o pesadelo da AIDS.
Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos?
Ainda sou aquela menina assustada que entrou pela primeira vez na escola, aquela filha desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou aquela professorinha ingênua que enfrentou sua primeira turma, aquela virgem sonhadora que entrou na igreja, vestida de branco, para um casamento que durou tão pouco! Ainda sou aquela mãe aflita com a primeira febre do filho que hoje tem mais de trinta anos.
Acho que é por isso que engordei, para caber tanta gente, é preciso espaço!
Passei batido pela tal crise dos trinta, pois estava ocupada demais lutando pela sobrevivência.
Os quarenta foram festejados com um baile, enquanto eu ansiava pela aposentadoria na carreira do magistério, que aconteceu quatro anos depois.
Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova cidade, num novo posto de trabalho.
Agora, aos sessenta, me pergunto onde está a velhinha que eu esperava ser nesta idade e onde se escondeu a jovem que me olhava do espelho todas as manhãs.
Tive o privilégio de viver uma época de profundas e rápidas transformações em todas as áreas: de Elvis Presley e Sinatra a Michael Jackson, de Beatles e Rolling Stones a Madonna, de Chico e Caetano a Cazuza e Ana Carolina; dos anos de chumbo da ditadura militar às passeatas pelas diretas e impeachment do presidente a um novo país misto de decepções e esperanças; da invenção da pílula e liberação sexual ao bebê de proveta e o pesadelo da AIDS.
Testemunhei a conquista dos cinco títulos mundiais do futebol brasileiro .
Nasci no ano em que a televisão chegou ao Brasil, mas minha família só conseguiu comprar um aparelho usado dez anos depois e, por meio de suas transmissões,vi a chegada do homem à lua, a queda do muro de Berlim e algumas guerras modernas. Passei por três reformas ortográficas e tive de aprender a nova linguagem do computador e da internet.
Não me sinto diferente do que era há alguns anos, continuo tendo sonhos, projetos, faço minhas caminhadas matinais com meu cachorro Kaká, pratico ioga, me alimento e durmo bem, gosto de cinema, música, leio muito, viajo para os lugares que um dia sonhei conhecer.
Por dois anos não exerci qualquer atividade profissional, mas voltei a orientar trabalhos acadêmicos e a ministrar algumas disciplinas em turmas de pós-graduação, o que me fez rejuvenescer em contato com os alunos, que têm se beneficiado de minha experiência e com quem tenho aprendido muito mais que ensinado.
Só agora comecei a precisar de óculos para perto e não tinjo os cabelos, pois os brancos são tão poucos que nem se percebe.
Por dois anos não exerci qualquer atividade profissional, mas voltei a orientar trabalhos acadêmicos e a ministrar algumas disciplinas em turmas de pós-graduação, o que me fez rejuvenescer em contato com os alunos, que têm se beneficiado de minha experiência e com quem tenho aprendido muito mais que ensinado.
Só agora comecei a precisar de óculos para perto e não tinjo os cabelos, pois os brancos são tão poucos que nem se percebe.
Há marcas do tempo, claro, e não somente rugas e os quilos a mais, mas também cicatrizes, testemunhas de algumas aprendizagens: a do apêndice me traz recordações do aniversário de nove anos passado no hospital; a da cesárea marca minha iniciação como mãe e a mais recente, do câncer de mama (felizmente curado), me lembra diariamente que a vida nos traz surpresas nem sempre agradáveis e que não tenho tempo a perder.
A capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo diminuiu, lembro de coisas que aconteceram há mais de cinquenta anos e esqueço as panelas no fogo.
Aliás, a memória (ou sua falta) merece um capítulo à parte: constantemente procuro determinada palavra ou quero lembrar o nome de alguém e começa a brincadeira de esconde-esconde.
Tento fórmulas mnemônicas, recito o alfabeto mentalmente e nada!
De repente, quando a conversa já mudou de rumo ou o interlocutor já se foi, eis que surge o nome ou palavra, como que zombando de mim...
Mas, do que é que eu estava falando mesmo?
De repente, quando a conversa já mudou de rumo ou o interlocutor já se foi, eis que surge o nome ou palavra, como que zombando de mim...
Mas, do que é que eu estava falando mesmo?
Ah, sim, dos meus sessenta.
Claro que existem vantagens: pagar meia-entrada (idosos, crianças e estudantes têm essa prerrogativa, talvez porque não são considerados pessoas inteiras), atendimento prioritário em filas exclusivas, sentar sem culpa nos bancos reservados do metrô e a TPM passou a significar “Tranquilidade Pós-Menopausa”.
Certamente o saldo é positivo, com muitas dúvidas e apenas uma certeza: tenho mais passado que futuro e vivo o presente intensamente, em minha nova condição de mulher muito sex...agenária!
Lindo!!
ResponderExcluirAmei.Acho que é porque estou bem próxima da idade sex...
Bjs
Boa Semana
Oi Ana
ResponderExcluirSuper bacana o texto, de uma lucidez incrível.
Adorei.
Bjo e boa tarde.
Oi Ana,lindo texto!
ResponderExcluirAna leia o livro (a parisiense )sim vc vai adorar e como vc vai pra lá,o livro tem endereços e fotos de lugares que de repente vale a pena conhecer,beijinhos e boa semana!
Oi ana,
ResponderExcluirO texto é lindo e saboreei cada palavrinha. eu sempre digo que tenho 5 anos, tenho 15, 20, 25, 32, 40... Eu não perco as idades que já tive, só vou adquirindo as novas.
Passei para desejar a vc uma semana maravilhosa.
Bjs
www.gosto-disto.com
ANA !!!
ResponderExcluirÉ EXATAMENTE ASSIM QUE ME SINTO, tenho a impressão que minha idade não combina comigo! kkkkk
lindo de se ler!
abraços!!
Oi Ana, que post lindo, não tenho medo de envelhecer, estou com 47 mas não troco pelos meus vinte, envelhecer é uma dádiva, e as marcas são um presente para nos lembrar de tudo que passamos. uma linda semana para você.
ResponderExcluirBjos.
Silvia.
Olá Ana
ResponderExcluirAdorei o texto.
Acabo de publicar um post. Gostaria de contar com a sua ajuda na divulgação, já que se trata de uma campanha para uma amiga blogueira.
BJ0000000000...............
www.amigadamoda1.com
Muito bacana!
ResponderExcluirObrigada pela visita, volte sempre <3
http://agoratopronta.blogspot.com/
Beijos Vanessa
Foi bom pra eu pensar na minha vida...!
ResponderExcluirBeijo!
E tem que dar muitas graças por estar viva para contar a história.
ResponderExcluirAna, estive em Natal, mas já regressei ao Porto.
Beijo
Oi, Ana,
ResponderExcluirmuito lindo esse texto! Muito verdadeiro também!
Um beijo!
Pois é. Quem não passa por isso é pq morreu antes.
ResponderExcluirQue bom que vc partilhou esse texto. Achei super verdadeiro e conforme diz acima a Liliane de Paula , quem não está passando por tudo isso é porque já está no andar de cima.
ResponderExcluirbeijos
ehehe, eu ia dizer alguma coisa, mas adorei o comentário da Liliane, viver é muito bom, eu tb acho que fazia mais coisas, estou mais devagar mas tudo tem mais qualidade também, a vida me ajudou a fazer com mais tempo mas faço menos, é a lei da compensação, bjinhos, amiga,adorei o post, boa semana.
ResponderExcluirQue ótimo texto, Ana! Acho que leva à reflexão em qualquer idade!!!! Com 38 anos, eu sinto que não sou mais a menina dos 25, mas me sinto tão jovem e chei ade energia!!!!!! penso que também vou ficar perplexa quando chegar aos 60!!!!! Mas, pelo menos, espero poder aproveitar todas as fases da vida cercadas pelos amigos e família, valorizando os bons momentos e tendo sabedoria pra deixar de lado as mágoas e perdoar com mais facilidade. Beijão!
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirLi o seu texto a respeito dos sessenta anos.Achei maravilhoso, me deu ânimo ver você assim tão animada.
Estou quase nos 58 anos e esperando uma aposentadoria aos 60, mas será que estarei com o pique igual ao seu?
Espero que sim.
Adorei o seu blog.
Obrigada pelo ânimo.
Sílvia