terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

"Neoqeav"

 Meus avós já estavam casados há mais de cinquenta anos e continuavam jogando um jogo
 que haviam iniciado quando começaram a namorar.

                A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra "Neoqeav" num lugar inesperado para o outro encontrar e assim quem a encontrasse deveria escrevê-la em outro lugar e assim sucessivamente.

Eles se revezavam deixando "Neoqeav" escrita por toda a casa, e assim que um a encontrava era sua vez  de escondê-la em outro local para o outro achar.  

Eles escreviam "Neoqeav" com os dedos no açúcar dentro do açucareiro ou no pote de farinha para que o próximo que fosse cozinhar a achasse.
Escreviam na janela embaçada pelo sereno que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim que ela fazia com tanto carinho.

"Neoqeav" era escrita no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra iria reaparecer depois do próximo banho.  

Pedacinhos de papel com "Neoqeav" rabiscado apareciam grudados no volante do carro que eles dividiam.
 Os bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e deixados debaixo dos travesseiros.  

        Esta misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avós quanto da mobília.
Levou bastante tempo para eu passar a entender e gostar completamente deste jogo que eles jogavam.

Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro.
Porém, eu nunca duvidei do amor entre meus avós. Este amor era profundo.
Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida. 

Roubavam beijos um do outro sempre que se batiam um contra outro naquela cozinha tão pequena.
Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal.

Minha avó cochichava para mim dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho bonito e charmoso.
Ela se gabava de dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos.

Antes de cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus e bênçãos aos presentes por sermos uma família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e com boa sorte.
Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avós: minha avó tinha câncer de mama.
A doença tinha primeiro aparecido dez anos antes.

Como sempre, vovô estava com ela a cada momento. Ele a confortava no quarto amarelo deles, que ele havia pintado dessa cor para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair.
O câncer agora estava de novo atacando seu corpo.

Com a ajuda de uma bengala e a mão firme do meu avô, eles iam à igreja toda manhã.
E minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa.
Por algum tempo, meu avô resolveu ir à igreja sozinho, rezando a Deus para zelar por sua esposa.
Então, o que todos nós temíamos aconteceu.
Vovó partiu. 
 

"Neoqeav" foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do Funeral da vovó.

Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela última vez.
Vovô ficou bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a cantar para ela.

Através de suas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro de seu ser.
Me sentindo muito triste, nunca vou me esquecer daquele momento.
 

Aposto que a esta altura você deve estar se perguntando:
"Mas o que Neoqeav significa?". Não está ?

Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você = "NEOQEAV"

7 comentários:

  1. Pensei que a história era verdadeira.
    Muito legal essa história de amor.

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  2. Querida Ana, afinal é verdade! Existem histórias de amor que duram para sempre e acabam bem!
    Uma imensa ternura perpassa todo o seu texto!
    Beijinhos, querida.

    Como estamos de projeto de viagem?

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  3. Quase chorei....linda história de amor verdadeiro...posso levar? bom sábado!

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  4. Quase chorei....linda história de amor verdadeiro...posso levar? bom sábado!

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  5. Oi Ana,
    Lindo e triste. Acredita que eu chorei?
    Bjs

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Agradeço, Ana Maria